21.6.08

PAULO MACIEL

A notícia , agora, da morte do prof. Paulo Maciel, pegou-me de surpresa. A comunidade científica pernambucana também encontra-se de luto como eu.
Há exatamente um ano, nesse mesmo mês e dia, falecia outro grande homem culto, o prof. Manuel Correia de Andrade. Naquela manhã, do velório, no exato local onde o ex-Reitor Paulo será velado - Academia Pernambucana de Letras- o encontrei. Conversámos rapidamente. O momento de tristeza impedia uma conversa mais prolongada.
Tinha por Paulo Maciel uma grande admiração. Ele me respeitava muito e até me honrava quando, de público, fazia referências a coisas tão simples e superficiais que ousadamente escrevi em jornais de Pernambuco.
Guardo do prof. Paulo Maciel uma excelente imagem de homem público, de intelectual, de orador e sobretudo de hábil Reitor da UFPE. Foi, talvez, o mais culto dos Reitores que passaram por aquela instituição de ensino superior.
Recordo agora de sua habilidade como Reitor. Habilidade singular, posta à prova, em momentos tão complexos da vida nacional e da UFPE, em particular.
Era final dos anos 70. O país estava ainda sob um regime de exceção. As liberdades democráticas impedidas, por razões óbvias. Mas os estudantes, começaram a ensaiar uma movimentação, de certa maneira "forte", no câmpus da UFPE. O regime não tolerava tal desobediência às determinações de silêncio. A movimentação crescia e o governo pensava em endurecer para evitar que o exemplo se alastrasse. Havia impasse, medos e possibilidade de radicalização dos dois lados....
Os estudantes estavam em massa na frente do CFCH. O ambiente era tenso. O clima era pesado, mesmo. Havia em todo canto os temidos "agentes de segurança" de então...Uns facilmente identificáveis; outros não! De súbito, desce de um carro da Reitoria, um senhor baixinho, de ar um pouco austero ( um pouco, apenas). Dirige-se ao meio da massa estudantil irrequieta, preparada para vaias coletivas. Agigantou-se de repente. Transcendeu, portanto, os limites de sua estatura física. Ergueu-se como um Hércules. Pondo de lado o protocolo, aquele homem, sem empáfia ou arrogância, sobe num dos bancos da frente do prédio e discursa para os jovens inquietos. Fez-se um silêncio. Ouviam-se suas palavras atentamente. Pregava o equilíbrio, pedia para que o movimento cessasse e assumia o compromisso de que não haveria punições nem invasão da UFPE por forças repressivas. Chegou até a concordar publicamente com algumas reivindicações estudantis.. . Publicamente!
Naquela época, poucos reitores teriam tal coragem. Poucos possuiriam tal determinação. Muito poucos ousariam concordar com reivindicações estudantis. Mas Paulo Maciel ousou e no meio da massa! E conseguiu, com uma facilidade que me impressionou, colocar ordem e tranqulidade no câmpus da UFPE.
Ouvir uma explanação de Paulo Maciel era um exercício de aprendizagem do que havia de melhor na oratória pernambucana.
Ouvir Paulo Maciel era aprender sobre tudo.
Lembrar Paulo Maciel é lembrar que os contrários, politicamente falando, podem conviver.
Lembrar Paulo Maciel é lembrar a liberdade maior, a de idéias. E Universidade é isso: a convivência de opostos.
Mais um intelectual pernambucano parte para uma viagem cujo destino ninguém conhece mesmo. Na estação, um adeus, uma saudade, um lenço branco acenando.
Ide em Paz, prof. Paulo!

13.6.08

AS MATINÊS DO CINEMA BRAGA

AS MATINÊS DO CINEMA BRAGA
Lucivânio Jatobá

Para muitos, que irão ler esta crônica, o Cinema Braga nada representa. Que cinema mesmo é esse? Em que lugar do mundo ele foi construído? Que importância possui?
O Cinema Braga situava-se no centro da cidade de Vitória de Santo Antão, numa estreita rua de pomposo nome: Av. Rui Barbosa. Era um prédio pequeno, meio quente, sem maiores atrativos estéticos. Em sua parede frontal eram expostos os cartazes de filmes que seriam vistos.
O Cinema Braga era a fábrica de fantasias...de minhas tardes de domingo.
Ainda não existia a televisão. As pessoas ficavam nas janelas de suas casas. Outras sentavam-se nas calçadas, em cadeiras de palhinha indiana. As conversas sobre a vida alheia permeavam , quase sempre, aquelas rodas de gente na frente das casas.
Nós meninos vitorienses aguardávamos, com ansiedade, a chegada da tarde do domingo. A fila imensa logo se formava na “av” Rui Barbosa. Enquanto esperávamos a abertura do cinema, podíamos ouvir os acordes magistrais do piano de Vandinho, jovem pianista de tradicional família da Cidade e que morava bem à frente, quase, do Braga.
O comércio estabelecia-se logo de início na rua. O comércio dos meninos, cuja moeda eram, normalmente, cédulas improvisadas de papel que envolvia os cigarros Astória, Minister e Hollywood.
Trocava-se ou “vendia-se” tudo: bolinhas de gude, piões, figurinhas dos campeões da Copa do Mundo, jibis, chocolate peixe...Ninguém enganava ninguém. A honestidade de um menino para outro menino era impressionantemente linda.
Quando seu Inácio instalou a máquina de pipoca, na entrada do Braga, que transformou em algo obsoleto as pipocas ( bem mais gostosas, é verdade) de seu Manoel e inútil o “algodão doce” de um outro vendedor, ficávamos parados à frente da máquina com suas pipocas que pulavam sem parar.
De repente, lá de um local por trás da tela , surgiam três ritmados e estranhos sonhos. Iria começar o sonho. Os meninos se apressavam para ocupar o melhor lugar na sala de exibição.
Havia , quase sempre, um “filme de índio”. Era filme sobre os “perversos” apaches. Ficávamos atentos à trama. Os soldados do Forte tal, sempre de uniforme azul, partiam para a batalha, ao som de uma corneta, que anunciaria o início do genocídio. Nós nem nos dávamos conta da mensagem subliminar de apoio ao extermínio de seres humanos que se deu nos EUA, na Marcha para Oeste.
Quando um apache era morto, o grito de satisfação era geral na platéia.. De súbito, outro apache caia do cavalo , sangrando. Uma bala varara-lhe o peito. E depois outro e outro. A platéia delirava de satisfação! Apaches sendo dizimados, sob os aplausos e gritos da meninada....
O Cinema Braga foi o meu “Cinema Paradiso”
Ali , naquele mágico ambiente, sonhei. Esqueci a realidade..
As tardes de domingo, agora, são ainda mais monótonas. Na TV, um homem meio forte de voz irritante, faz com que milhões de meninos e meninas e senhoras e senhores fiquem mudos diante de uma telinha. Os cinemas transformaram-se em templos de seitas que surgem do nada e pregam a salvação eterna.
Lá fora, na tela da vida, os corpos aparecem ensangüentados. Indiferentes a isso, crianças , nas grandes cidades, passam por cadáveres assassinados diariamente, vítimas de queima de arquivo, de briga de traficantes ou de execução sumária por grupos de extermínios.
Enquanto isso, escuto os sons mágicos que emanam dos dedos de Vandinho, coloco-me na fila para comprar o ingresso e depois peço um pacote de pipoca. Acabei de ouvir os três toques lá dentro da sala.
O filme de hoje será....
Meu Deus, que filme vai ser exibido? De que estou falando mesmo? Onde está, agora, Roy Rogers? Cadê o Cinema Braga? Por que não vejo aberta a bilheteria? Onde está a fila enorme que se formava? E os apaches? E o Homem-Morcego? E as figurinhas de Didi, Pelé e Vavá? Preciso trocar as minhas figurinhas!!!!!! Por favor, me digam: aonde foram todos?
Daqui a pouco voltaremos, após os comerciais! Plim,plim!!!!

2.6.08

AMBIENTALISTAS, UNI-VOS!

AMBIENTALISTAS, UNI-VOS!

Lucivânio Jatobá

Um espectro ronda o Brasil. O espectro do Ambientalismo. Todos os poderosos uniram-se numa Santa Aliança para exorcizá-lo: governos, altos escalões do poder, madeireiros, grandes industriais que poluem rios e lagunas, mineradores e até ex-radicais de esquerda da geração 68.
Qual o ambientalista hoje que não é chamado de reacionário, de anti-progresso, de anti-desenvolvimentista? Qual é mesmo o partido político no Poder ou fora do Poder que , na prática, se digna a defender, com rigor, a natureza ameaçada? Qual é mesmo o Ministro ou a Ministra que consegue evitar o avanço impressionante da destruição do Bioma Amazônico?
Daí decorrem dois fatos: I- O ambientalismo já pode ser considerado uma força até pelos que detêm o poder no País; II- Já chegou o tempo dos ambientalistas, os que defendem a sobrevivência do planeta enfermo, saírem dos seus gabinetes, com ar condicionado, e publicarem abertamente, diante de todo mundo, suas idéias, seus fins , suas tendências, opondo às críticas ferrenhas dos poderosos um manifesto ao povo brasileiro.
A Terra é uma só. A História da superfície terrestre até hoje tem sido a história da luta de contrários. Fatos físicos, de naturezas diversas, vivem uma incessante luta. A Floresta Amazônica , por exemplo, composta de árvores latifoliadas, lança na atmosfera uma grande quantidade de água, mediante o processo de evapotranspiração.. Sobre essa massa florestal há CO2. Esse CO2 contribui para o aquecimento global. Mas a mesma floresta seqüestra esse dióxido de Carbono, equilibrando o sistema aberto. Mas os que defendem o “desenvolvimento” a todo custo ou, em outras palavras, aqueles que , como Stalin, advogam que “os fins justificam os meios”, não estão preocupados com desequilíbrios ambientais graves. Isso é problema “inventado” pelo “ambientalismo”.O fim é o “desenvolvimento”; é a geração de emprego...
Qual a posição do Ambientalismo em relação à destruição da Floresta Amazônica que , segundo a ex- Ministra Marina Silva, “vem crescendo e o combate ao desmatamento sofrendo um retrocesso na Amazônia?”
Os ambientalistas sérios não têm interesses diferentes das classes trabalhadoras. Não formulam quaisquer teorias particulares mentirosas para que essas classes sejam prejudicadas e muito menos a Pátria brasileira. Os ambientalistas sérios não formam um partido à parte. Defendem a conservação do Bioma Amazônico. Pensam nas alterações climato-ambientais gravíssimas que virão com esse desmatamento que se prenuncia demolidor. Preocupam-se com o semi-árido nordestino, cujo regime de chuvas depende, em grande parte, fundamentalmente da quantidade de água que a floresta cede à atmosfera e que é trazida, no verão, para os espaços secos do trópico semi-árido brasileiro, particularmente no oeste baiano e pernambucano.
O fim imediato do ambientalismo é a Terra. As conclusões teóricas dos ambientalistas sérios não se baseiam, de forma alguma, em princípios inventados por mentes mirabolantes, por algum reacionário anti-desenvolvimentista, por cientista da “elite anti-povo”.
Mas deixemos de lado as objeções dos que detêm o Poder e das “classes dominantes” que querem espaços e mais espaços para plantar, devastando as florestas. Os ambientalistas sérios não se rebaixam em dissimular suas idéias e seus objetivos. Que os madeireiros e os seus representantes no Governo e no Legislativo tremam diante da “Revolução de Idéias Ambientalista”! Nada temos mais a perder, a não ser um planeta que se mostra doente e covardemente agredido.
Ambientalistas de todo o Brasil, uni-vos!