22.2.13

A DIFICÍLIMA ARTE DE ENSINAR NO BRASIL ATUAL


  A  DIFICÍLIMA ARTE DE ENSINAR NO BRASIL ATUAL

       Há 38 anos, mais ou menos, abracei a profissão docente. Muito moço, quase um menino, como dizia uma amiga minha, entrei numa sala de aula, no segundo semestre  do primeiro ano de universidade. Entrei e, mesmo com o forte stress dos primeiros dias, permaneci na profissão até hoje.   Já ensinei a milhares de pessoas em Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Minas Gerais, Paraná e Bahia. E ensinei sempre acompanhado de um entusiasmo enorme.  Sentia-me um felizardo por ser professor!

       Atualmente, e no momento em que me encontro com muito mais experiência docente, didática,  fui tomado de uma total desesperança, a ponto de pensar em afastar-me para sempre da sala de aula. E por que?

       De uns dez anos para cá, mais ou menos, ou até um pouco mais, os pilares em que se apoia a educação em qualquer lugar do mundo foram desconstruídos no Brasil: Hierarquia, Disciplina, Ordem e Respeito aos Professores nos colégios e nas instituições de ensino superior.  Houve uma total inversão de valores que impossibilita qualquer trabalho docente sério.  Poucos , por exemplo, são os professores universitários que topam enfrentar o quadro adverso que encontram diuturnamente na sala de aula. Preferem colocar em seu lugar “ monitores”, alunos de mestrado em estágio de docência, ou aplicar semanalmente “provas” para assim conseguirem sobreviver psíquica e fisicamente.

      Os alunos, inclusive universitários, vão para a instituição de ensino não com o propósito de aprender, de discutir novas ideias e tecnologias, mas para brincar, conversar em sala de aula e, com certa frequência, debochar dos professores que, em pé, sobre um tablado  improvisado, trabalham conteúdos, às vezes de grande complexidade e importância para a sociedade que, inclusive, está financiando as faculdades e universidades públicas. Constantemente, sou forçado a interromper a minha aula para pedir silêncio e atenção ao que estou abordando didaticamente. Mas esse tipo de pedido é absolutamente  inútil. Poucos minutos após a solicitação ter sido feita, a conversa continua, os bilhetinhos de papel circulam entre os colegas, os risinhos  voltam após a leitura daqueles...  Sinto-me no papel de um palhaço, que nem aplausos recebe após a “ópera bufa” que representou.

      Existem exceções, é verdade. Há alunos conscientes, interessados, que sabem que o mercado de trabalho, lá fora, é exigente e não absorve profissionais indisciplinados e com péssimo currículo. Esses são uma minoria, pelo que observo. O mercado lá fora não tem a permissividade absurda em que deixaram mergulhar a universidade brasileira.

     Considero, com grande amargura, que ensinar atualmente, em qualquer nível, é apenas uma perda de tempo.

21.2.13

EDITORIAL DO GLOBO SOBRE A BLOGUEIRA CUBANA PERSEGUIDA NO BRASIL

A intolerância recepciona Yoani Sánchez (Editorial)

O Globo
A denúncia publicada pela revista “Veja” de que o embaixador cubano no Brasil, Carlos Zamora Rodríguez, patrocinara reunião em Brasília para abastecer grupos radicais de “informações” contra a blogueira Yoani Sánchez foi o sinal de que a viagem da cubana dissidente ao Brasil poderia não ser tranquila.
Para tornar o fato mais grave, participou do encontro Ricardo Poppi Martins, militante petista coordenador de Novas Mídias e Outras Linguagens de Participação, da Secretaria Geral da Presidência, de Gilberto Carvalho. Entre os presentes à reunião, articulada pelo coordenador político da embaixada, Rafael Hidalgo, havia mais representantes do PT, além do PCdoB, da CUT, etc.
 
 
Impossível não estabelecer relação entre a reunião de “agitação e propaganda” patrocinada pelo senhor embaixador cubano em Brasília, na qual foi distribuído pelo menos um CD da ditadura cubana para ajudar a difamar Yoani, e ruidosas e agressivas manifestações feitas por grupelhos na passagem da blogueira principalmente por Recife (PE) e Feira de Santana (BA).
Um dos símbolos da luta pela liberdade de expressão em Cuba, Yoani teve a melhor das reações diante da claque que avançou com violência contra ela no Recife: “Esta é uma expressão da democracia que espero ver em Cuba.” Mas, assim como em Cuba, ela teve limitada a liberdade, pois, na Bahia, não pôde ser exibido o filme “Conexão Cuba-Honduras”, um dos motivos de sua viagem, depois de cinco anos de tentativas de obter visto para ir ao exterior.
Recebida ontem no Congresso, por iniciativa correta da oposição e apoio de pessoas sensatas da base do governo, como o senador Eduardo Suplicy (PT-SP), Yoani, com a sua viagem, ajuda a sociedade brasileira a ter uma ideia de como se articulam, dentro e fora do governo, grupos radicais, antidemocratas, intolerantes.
A tíbia reação do Itamaraty a uma reunião numa embaixada estrangeira para deflagrar uma ação política de sabotagem em território nacional já demonstra o poder dessa gente em Brasília.
Ficou evidente, ainda, que se usa a mesma rede de militância existente na internet — a partir de perfis falsos, e-mails de “laranjas” — para disseminar acusações de toda ordem contra Yoani, deixando a impressão digital de uma operação orquestrada. Mais uma vez. Até os cartazes, como registrou a cubana em seu blog Generación Y, brandidos contra ela no desembarque, eram padronizados.
Nada a estranhar quanto a manifestações. É parte da democracia — que não existe mesmo em Cuba. Lá, ativismo político só a favor. O preocupante é quando esquemas autoritários de militância têm raízes dentro do aparelho de Estado.
A pressão sobre a blogueira no Brasil expõe algo bem mais grave do que a ação de minorias fanáticas.

20.2.13

                          "NÓIS SOFRE, MAS NÓIS GOZA"

                Tarcísio Pereira, o grande livreiro do Recife, não joga a toalha nunca. E por que teria de jogar?  Agora, no Carnaval de 2013, novamente, colocou o bloco “Nóis Sofre , mas Nóis Goza”  na rua, mais especificamente na Rua Sete de Setembro , no Recife.  ( Vejam a fotografia)

                O Nóis Sofre... surgiu na década de 1970, mais especificamente em 1976.  Apareceu do nada, geração absolutamente  espontânea, diriam os “biólogos do Carnaval”.

A Livro Sete, que naquele ano funcionava num casarão  branco  na rua homônima, era o ponto de encontro e de alívio intelectual, sempre a partir de 16 horas. “Gente da melhor qualidade” – na gíria de então- reunia-se ali no casarão  para saber das novidades literárias, das prisões ocorridas, da nova edição do jornal Opinião e, como sempre, para fofocar... Parece que, numa dessas tardes, uma parte desses assíduos frequentadores perguntou a Tarcísio se ele toparia fazer um “bloco de sujos”, que sairia do Casarão até o Pátio de São Pedro, mas sem orquestra de frevo sem nada. O toque seria apenas de latas...  Mas, como se chamaria esse “bloco”?

                Contou-me José Mário Rodrigues, o poeta que Ângelo Monteiro chamava de “ O Incomensurável”, que certa vez, indo para Itamaracá, num ônibus que saía de hora em hora, de uma parada à beira do rio Capibaribe, sempre lotadíssimo, observou uma cena e ao final colocou no seu inseparável “caderninho de anotações poéticas”. A cena: duas mulheres, bem populares e gordas, estavam em pé, naquela “lata de sardinhas Coqueiro”. Quando passava algum passageiro para descer, obrigatoriamente aquelas senhoras eram comprimidas contra as cadeiras ou o ombro do passageiro que estava sentado.  Durante  várias vezes, a cena repetiu-se. E aí, subitamente, uma das mulheres virou-se para outra e disparou esta: “Neguinha, que aperto da gota serena!” E a outra prontamente respondeu: “E´mermu!  Mas, nóis sofre, neguinha, mais nóis goza.”

                Estava ali, naquele curto diálogo inusitado, o título do “Bloco de Tarcísio”, como ainda hoje é conhecido.  Naquela frase-título havia muita ironia, inclusive para os tempos de sofrimento pelo qual passavam os intelectuais pernambucanos naquela fatídica década. Sofrimento o ano inteiro, com perseguições, prisões, censura, proibições diversas, mas gozo no sábado de Zé Pereira, pelas ruas do Recife. ( "Mas é Carnaval, não me diga mais quem é você...!", cantávamos)

                Vi o segundo “desfile” do Nóis Sofre... Lembro de algumas coisas que ocorreram na “concentração” do Bloco no casarão branco. Duas dessas coisas ressaltaria aqui. A primeira foi a confecção do “estandarte”,cujo desenho foi feito, na hora, pelo artista plástico Cavani Rosas. A segunda, o prof. sempre sisudo, Josemir Camilo- atualmente lotado na UFPB/Campina Grande- carregando, e fazendo “acrobacias” pelas ruas, o estandarte improvisado.  Tomei muita cerveja naquele sábado de 1977 e esqueci dos outros detalhes. Quando lembrar desses “outros detalhes” continuarei  essa quase  crônica...

Nesta última foto, estou "marcando presença" em 2013 . Neste ano, o bloco homenageou o Grande Brasileiro Joaquim Barbosa, conforme pode ser visto na foto acima.
Na primeira foto, meus amigos Lúcia Cristina ( geógrafa) e Gilberto ( professor). Eles não perdem um só desfile. Vão até de maca...

19.2.13


QUE VERGONHA!

     A 0h 30 desta terça-feira, dia 19 de fevereiro de 2013, chegou ao aeroporto dos Guararapes, no Recife ( Brasil), a sra. Yoani Sanchez.  Quem é ela? Atualmente é uma das pessoas cubanas mais conhecidas no exterior.  Yoani luta, como uma espécie de “Quixote do Caribe”, por um bem essencial à vida humana: a Liberdade de Expressão. Em Cuba- qualquer pessoa de bom senso sabe-  essa liberdade inexiste, e não é  de hoje. Cuba sepultou os ideais humanistas do Socialismo puro.
     Esperava-se uma recepção decente à  fisicamente frágil blogueira de Havana. O Brasil tinha essa fama, a de ser um país hospitaleiro. Tinha!  O que ocorreu ontem no Aeroporto dos Guararapes foi uma vergonha. Agrediram a jovem senhora com palavrões, palavras-de-ordem ensaiadas agressivas e até tentativa de agressões físicas, ( puxaram-lhe os cabelos)  desrespeitando, assim, a Lei Maria da Penha, tão rigorosa no Brasil.  Mas quem estava lá para defender a frágil senhora? Onde estavam as forças policiais para “manter a ordem”?  Onde estavam os defensores dos Direitos Humanos? Onde estavam  as feministas que saíram às ruas, recentemente, em defesa das vadias? Yoani Sanchez não é uma “vadia”; ela é uma cidadã corajosa que enfrenta, apenas com um computador , a tirania de uma dinastia que se diz “socialista”.
      Fui admirador e seguidor dos princípios fundamentais do Socialismo. Mas. para mim, ser socialista era ser libertário e não liberticida.
      Pernambuco pede-lhe desculpas, sra. Yaoani Sanchez!   Pernambuco não é isso que a senhora viu no Aeroporto Internacional dos Guararapes!  Pernambuco foi o berço da República e das lutas libertárias.
      Vou procurar um buraco no solo e enfiar a minha cabeça!
A ZONA DE CONVERGÊNCIA INTERTROPICAL (ZCIT)

          Nesta noite de terça-feira, 19 de fevereiro de 2013, às 20h30 , observei a imagem de satélite hemisférica, divulgada pela NASA. Encontrei , nessa imagem, que, aliás, é muito bela, indícios de que a Zona de Convergência Intertropical está migrando para o sul e atingindo fortemente o Ceará. Esse sistema atmosférico, eminentemente tropical, é o principal responsável pelas chuvas de verão-outono que ocorrem no semiárido nordestino, particularmente nos Estados do Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba e Pernambuco.  Eventualmente, atinge, também , o  Sertão alagoano.  Quando a ZCIT não faz essa migração meridional, a seca no semiárido desses estados é certa. Voltaremos a falar sobre esse sistema.  Por enquanto, observem o avanço das nuvens no Ceará, na data mencionada. Vejam, também, uma linha de instabilidade de direção SE-NO , na altura de AL-PE.