24.1.15

O SOM DO VENTO
( Para os poetas: Vernaide Wanderley, Chico de Assis e Clovis )

Enquanto tento reler o capítulo final de São Bernardo, obra magistral de Graciliano Ramos, um vento insistente ruidosamente busca ultrapassar uma brecha aberta na porta de vidro do meu apartamento. Um uivo insistente me incomoda. Busco esquecê-lo. Concentro-me, em vão, nas frases de Paulo Honório.
O que esse vento tem pra me dizer? De onde vem essa corrente de ar que atravessa mares, planícies e avenidas e desemboca logo sobre meu espaço? Por que insiste em me incomodar? Por que não me deixa compreender , sob um novo prisma que a maturidade de leitor me permite estabelecer, a figura triste, por demais solitária e aparentemente má de Paulo Honório? Quero saber o porquê dessa figura da obra do escritor das Alagoas não ter um mínimo de peso na consciência, quando diz que “ faria tudo outra vez”, mesmo sabendo os males que causou a tantas pessoas.
De novo o uivo do vento alísio de sudeste em minha porta. Olho uma velha garrafa de uísque. Sinto uma vontade de tomar uma dose dupla, encerrar a leitura e ligar para alguém. Preciso de um mínimo de concentração. Crio ódio de Paulo Honório e do pio da coruja, referido páginas antes pelo escritor... Por que foste tão mau, homem rude?
Abstenho-me de uma dose. Insisto na leitura , escuto o vento que não me abandona e tento compreender as frases metafóricas dele.
Talvez seja melhor ouvir Bob Dylan e mergulhar num passado quase inumado na minha mente. Há um tempo em que a resposta para muitas coisas pode estar no vento.
How many roads must a man walk down,
Before you can call him a man?
How many seas must a white dove sail,
Before she sleeps in the sand?
Yes, and how many times must cannonballs fly,
Before they're forever banned?
The answer, my friend, is blowin' in the wind
The answer is blowin' in the wind”