24.7.08

O LADRÃO COMUM E OS RIGORES DA LEI

Lucivânio Jatobá

Ao ler o artigo, não pude conter a indignação. Está lá no glorioso Jornal do Commércio: “ FLANELINHA PRESO POR ROUBAR QUEIJO VOLTA PARA CASA”.
Sem dúvida, um “ladrão” como tantos outros. Mas um ladrão miserável, sem conta corrente em instituições financeiras. O meliante nunca foi Prefeito, não possui banco, nem tem conhecidos importantes em altos escalões governamentais e muito menos no Poder Judiciário. E´ um “Zé Ninguém” que só existe no dia das Eleições, quando candidatos batem-lhe “delicadamente” nas costas.
Wandevergue Paiva é “flanelinha”. Vive de “bicos”, como se diz aqui no Nordeste brasileiro. Tem “apenas” 06 (seis ) filhos e uma esposa para sustentar. E essas criaturas necessitam, pelo menos, de alimentos, como precisam todos os animais, inclusive os cães rabugentos abandonados nas ruas e avenidas. Mas como alimentar sete pessoas , vivendo de “bicos”, de centavos dados por proprietários (revoltados) de automóveis? O que fazer quando se chega em casa e a meninada está chorando, com face amarelada, de fome?
Wandevergue Paiva foi algemado e levado ao COTEL ( o Centro de Triagem , para onde são encaminhados os bandidos detidos). Ninguém deu entrevistas na Globo protestando pelo fato de que o miserável faminto foi algemado. Nenhuma alta autoridade brasileira reclamou. O meliante é um miserável.... como tantos outros que vivem nas favelas brasileiras.
Wandevergue Paiva, o flanelinha, passou 6 dias jogado no COTEL. Nenhuma alta autoridade do Judiciário brasileiro concedeu-lhe um habeas corpus de madrugada, no mesmo dia de sua prisão. Wandevergue Paiva é um “ladrão de galinhas”, diria meu pai. Um ladrão comum. Um ladrão que roubou não pelo vício ou por sabedoria excessiva. Wandevergue roubou pelo desespero que o ronco das vísceras estomacais e intestinais causa quando a fome aperta. Roubou como “recurso derradeiro”. Roubou pelo desespero da fome, que nunca fica Zero, exceto na propaganda.
Wandevergue Paiva é um cidadão qualquer. Para ele aplicam-se os rigores da Lei e fornecem uma cela imunda.
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* Em face das repercussões nacionais desse caso, após o escândalo ocorrido com ladrões de alto escalões,já em liberdade, o flanelinha, depois de 6 dias presos, foi solto, graças ao Defensor Público Marcos Caribe e à Juíza Socorro Brito Alves. Outras informações: www.jc.com.br , edição de 24/7/2008

2 comentários:

Anônimo disse...

Decerto que todos reconhecem os que são conhecidos como "zé ninguém", "zé qualquer", "provador de amargor" e todos reconhecem os que são "vítimas de perseguições politicas", os que têm "foro privilegiado e a cela especial"... Embora tenham surgido como "garantias", representam privilégios absurdos que levam a justiça, o judiciario e o país ao descrédito e nos guiam a insubordinação civil e a certeza de impunibilidade.
Nossos meliantes, ladrões de galinha, miseráveis tais quais em obra de Vitor Hugo, jamais seram reconhecidos com tais direitos... Ora por quê? Ora, porque é assim e assim nos acostumamos.
Recordo-me do que nos orientava, em suas idéias, camarada Ché Guevara: "A maior virtude de um ser humano é a sua capacidade de indignar-se perante qualquer fato injusto".
Esse é o mal. E de onde vem a cura, caro Professor Lucivânio?

Anônimo disse...

Decerto que todos reconhecem os que são conhecidos como "zé ninguém", "zé qualquer", "provador de amargor" e todos reconhecem os que são "vítimas de perseguições politicas", os que têm "foro privilegiado e a cela especial"... Embora tenham surgido como "garantias", representam privilégios absurdos que levam a justiça, o judiciario e o país ao descrédito e nos guiam a insubordinação civil e a certeza de impunibilidade.
Nossos meliantes, ladrões de galinha, miseráveis tais quais em obra de Vitor Hugo, jamais seram reconhecidos com tais direitos... Ora por quê? Ora, porque é assim e assim nos acostumamos.
Recordo-me do que nos orientava, em suas idéias, camarada Ché Guevara: "A maior virtude de um ser humano é a sua capacidade de indignar-se perante qualquer fato injusto".
Esse é o mal. E de onde vem a cura, caro Professor Lucivânio?