6.10.12


                                                O PRAZER DE VOTAR
                                                      ( Lucivânio Jatobá)

Adquiri de meu pai  o prazer pelo ato de votar. Lembro-me dos dias de Eleição, em Vitória de Sto. Antão, Zona da Mata pernambucana, na década de 1960. Meu pai vestia o terno branco, engraxava o sapato e ia para a Secção Eleitoral dele para votar. Gostava de vê-lo, elegante, votando e depois comentando Política com dr. José Leal de Farias ou com José Augusto Ferrer. Segurava na mão do meu pai, acompanhava-o, e via-o escrevendo na cédula o nome dos candidatos. Como eu queria estar no lugar dele em 1962. Queria ter 18 anos para fazer o mesmo. Mas o tempo parecia andar em câmera lenta.

Meu primeiro voto aconteceu exatamente quando esse ato democrático não tinha mais o menor valor: no regime de exceção! E naquele ano- 1970- nós da esquerda estudantil fizemos uma ampla campanha do Voto Nulo e fomos ferozmente caçados por essa ousadia. Fui votar e votei nulo, pela primeira vez! Depois vieram outras eleições. Nunca para Governador , Presidente da República ou Prefeito. No Recife, essas eleições não poderiam ocorrer, pois era área de “Segurança Nacional”. Só depois, com a Redemocratização do País, pude escolher pessoas para esses cargos.
Votei já em muita gente. E com o tempo e com a maturidade, que inevitavelmente desabrocha com a idade cronológica e com as porradas da vida, , fui votando não mais por ideologia, pura e simples, mas pela honestidade e seriedade dos candidatos. Votei em pessoas de Esquerda, de Direita e de Centro-Direita. Poucos me decepcionaram, é bem verdade. Alguns me causaram ascos depois e um arrependimento descomunal.

Votei já em: Marcos Freire, Roberto Freire, Gustavo Krause, Lula, Fernando Collor, Oswaldo Lima Filho, e até em Enéas. Sim, votei em Enéas, induzido por um dos meus paroxismos de decepção! Votei em Roberto Arraes, Miguel Arraes, Mendonça Filho, Priscila Krause, Bento Bezerra e em outros menos conhecidos , impedidos de ser lembrados agora pelos meus lapsos de memória. Votei em todos com uma esperança fora do comum. Só vou referir-me a um deles que me decepcionou e me fez chorar na beira-mar de Boa Viagem, numa manhã de janeiro, no segundo dia do seu mandato: Fernando Collor de Melo. Votei nesse homem, ingenuamente. Considerava-o como um Presidente que seria um grande estadista. Ledo engano! O outro que me decepcionou, todos devem saber; não preciso mencionar o nome. Você que está lendo essa crônica agora também deve ter tido a mesma decepção minha.

Amanhã, domingo dia 7 de outubro de 2012, novamente vestirei meu paletó, imitando meu pai, e irei votar, no meio das massas populares, no bairro do Vasco da Gama, no SESI, onde sempre votei. Reviverei, como sempre, o meu primeiro dia de votação em 1970, no dia 15 de novembro. E o farei com um prazer imenso e uma saudade enorme do tempo em que acreditava religiosamente nos políticos para quem , orgulhosamente, dava o meu voto.

Não votarei nulo! Votarei por mudanças que acredito necessárias. Votarei pelo democrático rodízio do Poder. Votarei segundo as imposições de minha personalidade democrática. Votarei segundo a minha consciência.
Milhões de vezes uma democracia ruim, como a atual que temos no país, do que um regime de Partido Único! Viva a Eleição de amanhã! Viva a Liberdade!

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