26.12.12

“THE FIRST NOEL”
                     Lucivânio Jatobá

            Ao ouvir a canção, desenham-se , de súbito, na minha mente, as imagens remotas e que parecem sepultadas na memória. Minha mãe aprontando-nos para a Missa do Galo , na Igreja da Matriz em Santo Antão da Mata, passando na minha cabeça o perfume Lancaster e um pouco de brilhantina Glostora. Meus irmãos, ainda bem pequenos, animando-se com os brinquedos instalados na praça. Meu pai colocando o paletó branco e lenço marrom no bolso. A família dirigindo-se, em paz, para comemorar o Natal, naquela cidade da Zona da Mata pernambucana
          A carrossel dos cavalinhos imóveis girava incessantemente. Sentia-me tonto com aquele movimento interminável. As pessoas ao meu redor giravam. Via meu pai olhando-me e rodando em sentido contrário ao meu movimento! Passado o momento da cinetose e do enjôo causado pelo carrossel, corríamos para a barraca de Mané Poças para comer o inesquecível cachorro-quente, cuja receita aquele homem jamais revelou.
Os sinos da matriz, que Brigitte, o aprendiz de sacristão, batia, anunciavam que a missa logo iria ter início. Na escada do templo religioso, um coral improvisado da cidade entoava cantos natalinos. Segurando na mão de minha mãe, mirava o coral e ouvia atentamente a canção inesquecível.
          No dia seguinte, o 25 de dezembro , acordaria ansioso para olhar sob a minha cama e sobre os meus sapatinhos empoeirados, o “presente de Papai Noel”. Naquele ano, ganhei um cavaquinho.
          Hoje, imerso na realidade, o Natal é um momento de vazio inexplicável. Não há tempo para sonhos, fantasias, ouvir coral natalino, observar pastoril , girar no carrossel, comer o cachorro-quente de Mané Poças e muito menos para verificar presentes sob a cama, no dia 25 de dezembro. Tudo é real demais!
          Restam agora a saudade de um tempo perdido e aquela canção inesquecível: "The First Noel". Há sempre uma melancolia no Natal que , como uma lâmina afiada, corta almas aflitas.


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