4.5.08

CAMINHANDO SOBRE ESCOMBROS
Lucivânio Jatobá


Na longa avenida, apenas flores mortas atiradas ao chão. Um homem varre a rua empoeirada e reclama da vida... Falando só, queixa-se da mulher. Mas quem ouvirá seus murmúrios inaudíveis na manhã de Natal?
Nos apartamentos, que confinam a avenida, o silêncio.
Na noite anterior, ouvia-se o pipocar incômodo das garrafas de champanhe . Nas varandas, a felicidade parecia até estar ao alcance de todos. Havia risos, havia abraços, havia até beijos. Havia amigos secretos... Havia vida após a exumação dos fantasmas.
Era o que aparentava...
Na noite anterior, todos pareciam bêbados de sonhos, embalados pela voz de Roberto Carlos: “ Eu tenho estrelas, eu tenho sonhos, eu tenho tudo quando estou te amando...”
Na madrugada, alguém caminha lentamente pela longa avenida. No horizonte, após a interminável noite, o Sol parece querer despontar, ainda como luz tênue. Nuvens carregadas tomam conta do céu. Insistem em escurecer o existir.
O homem da limpeza urbana continua o seu monólogo solitário...
Há escombros na alma.
Sobre os escombros, alguém resiste..., talvez com a canção dos Beatles na cabeça: “ Help, I need somebody,/ Help, not just anybody, /Help, you know I need someone, help! “

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